Catedral de NOTRE DAME

 

 

 

 

História:

Notre-Dame está situada na Ile de la Cité, local que abriga as origens da cidade de Paris e habitado por tribos celtas há mais de 2000 anos. Uma dessas tribos, a dos parisii, acabou por dar o nome à cidade, anteriormente conhecida como Lutécia. A ilha oferecia um bom ponto de cruzamento do Rio Sena na rota entre o norte e o sul da Gália e era de fácil defesa. A aldeia se expandiu sob o domínio do Império Romano, dos francos e dos reis capetos, até formar o núcleo da cidade atual. É o local mais antigo de Paris e as ruínas de suas primeiras edificações, anteriores ao nascimento de Cristo, podem ser vistas sob o nível de pavimentação atual da praça diante da catedral. Atualmente todas as distâncias rodoviárias da França são calculadas a partir da catedral.

A construção de Notre-Dame de Paris aconteceu por iniciativa de Maurice de Sully, filho de uma camponesa que recolhia madeira às margens do Loire. Depois de se formar mestre em Teologia e bispo de Paris, Maurice mandou demolir duas antigas e pequenas igrejas do século VI na ilha do Sena, dedicadas a Santo Estêvão e a Nossa Senhora (que já haviam sido edificadas em substituição a um antigo templo romano), e lá colocou a primeira pedra do novo edifício em 1163, na presença do papa Alexandre III, segundo nos conta a tradição. Estava então iniciada uma obra que levaria cerca de 170 anos para ser concluída.

Não se conhece o nome do primeiro arquiteto de Notre-Dame de Paris. Sua identidade perdeu-se ao longo dos séculos, mas seu plano de obra conserva-se no museu de L’Oeuvre Notre-Dame na cidade de Estrasburgo. Durante o decênio de 1170, o primeiro mestre foi substituído por um outro, também anônimo, sem que ocorresse qualquer interrupção nos trabalhos. Algumas modificações foram introduzidas, embora mantido o esquema inicial. O segundo arquiteto deixou seus trabalhos por volta de 1200, e o terceiro iniciou a edificação dos suportes, contrafortes e pilares da fachada, ficando encarregado um quarto arquiteto, anônimo como os anteriores, de realizar a junção da fachada com a nave, de 1210 até 1220, aproximadamente.

Uma inscrição gravada em uma das pedras do transepto sul deixa-nos finalmente o nome de um dos arquitetos de Notre-Dame de Paris – Jean de Chelles, morto em 1258. Tal registro foi efetuado por Pierre de Montreuil, seu sucessor, morto em 1269, numa homenagem póstuma em um tempo em que os artistas não subscreviam suas obras, compartilhando com todos sua autoria.

 A Catedral:

Em 1330, data do término da construção, Notre-Dame ostentava 130 metros de comprimento, um grande transepto e torres gêmeas de 69 metros. Suas rosáceas são, sem dúvida alguma, umas das mais belas em todo o mundo. A rosácea oeste, na fachada logo acima da Galeria dos Reis, foi montada antes do ano de 1220 e possui 9,7 metros de diâmetro, enquanto as rosáceas dos transeptos possuem 12,9 metros de diâmetro cada uma. A do norte ficou pronta por volta de 1252 e a do sul em 1258.

Rosácea e Vitrais do Transepto Norte

 Nas missas e concertos musicais a Catedral de Notre-Dame de Paris é inundada pelos sons de seus dois órgãos. O menor, no coro, tem 2000 tubos, e o outro 8000, provavelmente o maior em toda a Europa.

Fundidos em bronze, os primeiros sinos de Notre-Dame foram transformados em canhões em 1791. O Bourdon, instalado em 1400, foi fundido novamente por ordem de Luís XIV. Pesa 13 toneladas e seu badalo 500 kg. Não toca senão nas festas de Natal, de Ramos, de Páscoa, da Ascensão, de Pentecostes, Todos os Santos, ou nos grandes acontecimentos da França. Quatro outros sinos, fundidos em 1858 com o bronze dos canhões conquistados na batalha de Sebastopole, substituíram os da Idade Média.

Notre-Dame de Paris sempre foi o refúgio hospitaleiro de todo infortúnio. Na Idade Média os doentes que vinham implorar a Deus o alívio de seus sofrimentos em Notre-Dame permaneciam até à sua cura. Destinavam-lhes uma capela situada perto da segunda porta e iluminada por seis lamparinas. Ali passavam as noites.

A Catedral é o asilo inviolável das pessoas perseguidas e o sepulcro dos mortos ilustres. É a cidade dentro da cidade, o núcleo intelectual e moral do aglomerado, o coração da atividade pública, a apoteose do pensamento, do saber e da arte. Fulcanelli nos conta que pela abundante floração dos seus ornamentos, pela variedade dos temas e das cenas que a enfeitam, a catedral aparece como uma enciclopédia muito completa e variada, ora ingênua, ora nobre, sempre viva, de todos os conhecimentos medievais. Estas esfinges de pedra são assim educadoras e iniciadoras em primeiro lugar.

Este povo cheio de quimeras, de figuras grotescas, de figurinhas, de carrancas, de ameaçadoras gárgulas - dragões, vampiros e demônios – é o guardião secular do patrimônio ancestral. A arte e a ciência, outrora concentradas nos grandes mosteiros, escapam-se da oficina, acorrem ao edifício, agarram-se aos campanários, aos pináculos, aos arcobotantes, suspendem-se das abóbadas, povoam os nichos, transformam os vitrais em pedras preciosas, o bronze em vibrações sonoras e desdobram-se pelos portais numa alegre revoada de liberdade e de expressão. Nada mais cativante que o simbolismo dos velhos alquimistas habilmente traduzido pelos estatuários medievais. A este respeito, Notre-Dame de Paris, igreja filosofal, é sem dúvida um dos exemplares mais perfeitos e, como disse Victor Hugo, "A síntese mais satisfatória da ciência hermética, de que a igreja de Saint-Jacques-la-Boucherie era um completo hieróglifo".

Os alquimistas do século XIV lá reuniam-se semanalmente, no dia de Saturno, no grande portal ou no portal de São Marcelo, ou ainda na Porta Vermelha toda decorada de salamandras. Denys Zachaire informa-nos que o hábito se mantinha ainda no ano de 1539, nos domingos e dias de festa; e Noël du Fail diz que o encontro de tais acadêmicos era em Notre-Dame de Paris.

Conforme outras catedrais góticas e a maioria das igrejas, Notre-Dame tem a sua abside virada para sudeste e a sua fachada para noroeste, enquanto os transeptos, formando os braços da cruz, estão orientados do nordeste para o sudoeste. Trata-se de uma orientação invariável, de tal maneira que, fiéis e profanos, entrando no templo pelo Ocidente, caminhem em direção ao santuário com a face voltada para o lado onde o sol se ergue, em direção ao Oriente, à Palestina, berço do Cristianismo. Saem das trevas e dirigem-se para a luz.

 

Mutilações:

 

Notre-Dame de Paris ao longo se seus séculos de existência foi alvo de inúmeros ataques e mutilações. Victor Hugo com sua genialidade literária, escreveu em 1831 o romance "Nossa Senhora de Paris" , obra que em meio à belíssima trama, chamava a atenção do povo e autoridades francesas, para o estado lamentável em que se encontrava a catedral, vítima indefesa da ação do tempo, a quem chamou de cego, e dos homens, a quem chamou de estúpidos.

Por volta do final da Idade Média, "os mendigos tinham-se tornado uma praga assustadora", escreve Huizinga. "Invadiam a igreja em bandos numerosos e perturbavam as funções sagradas com lamentações e clamores; entre eles havia péssimos sujeitos". Eustache Deschamps, alegre poeta cortês, exorta os padres a expulsá-los a pauladas, matá-los, queimá-los. Em 02/02/1492, acontece uma violenta pancadaria na catedral.

As mutilações que se seguiram foram muitas: os vitrais medievais haviam sido substituídos no século XVIII por determinação do clero, em mais um gesto de profunda ignorância, apenas por manterem o interior da catedral em uma penumbra. "Desejosos de luz", trocaram-nos por outros de vidros claros, quase incolores...

Ainda no século XVIII seu altar gótico foi substituído pelo barroco, assim como outros elementos, e para deter a armada Prussiana conduzida pelo duque de Brunswick, a Revolução mandou fundir os relicários, os candelabros, os crucifixos de bronze, os sinos, que transformaram em canhões. A seguir, procedeu-se uma busca nas tumbas, para reunir anéis; com o chumbo dos esquifes arcebispais, fabricaram-se balas de artilharia.

Não era a primeira vez que Notre-Dame via os sagrados paramentos transformarem-se em material bélico. Dois séculos antes, os cônegos haviam sido obrigados a fundir vasos preciosos e o relicário de ouro, que guardava o braço de Santo André (?), para ajudar o rei na guerra contra os huguenotes.

Notre-Dame foi saqueada e depredada durante os anos de 1793 – 1794 por revolucionários. Mais de uma centena de estátuas foram destruídas na ocasião, inclusive as 28 da fachada, na Galeria dos Reis de Judá, confundidos com reis da França pelo povo. Em 1977, 21 das 28 cabeças foram encontradas durante escavações na Rue de la Chausée-d’Antin, perto da Ópera de Paris.

Nessa época a religião foi abolida em Notre-Dame de Paris, os revolucionários mudaram seu nome para "Templo da Razão", e a antiga catedral passou a servir como depósito de vinho e suprimentos. Mais tarde a ex-catedral foi leiloada e comprada pelo fundador do socialismo utópico francês, Claude-Henri de Rouvroy, com a intenção de demoli-la. Mas, em um dos poucos casos em que a burocracia é bem vinda, os trâmites para a consumação da compra dificultaram sua formalização, e, nada mais foi concretizado.

A religião foi reinstituída em 18/04/1802, e em 02/12/1804 na catedral, Napoleão coroa-se Imperador da França. Mas o estado de conservação de Notre-Dame de Paris era lamentável, e assim permaneceu até a publicação do romance de Victor Hugo, causando uma onda crescente de interesse pelo magnífico edifício, massacrado primeiro pelos "restauradores", e segundo pelos revolucionários.

A restauração da catedral teve início no ano de 1844 com a destinação de verbas e a contratação de dois arquitetos bastante conceituados na França: Lassus e Viollet-le-Duc. Victor Hugo, os condes Beugnot, De Bondy, De Gasparin, De Rambuteau, o duque De La Force e o escritor Montalembert foram indicados como supervisores. Depois da morte de Lassus, em 1857, Viollet-le-Duc prosseguiu sozinho, e as obras da restauração foram concluídas, entre críticas e polêmicas, oficialmente em 1864.

Notre-Dame correu sério perigo mesmo depois das obras de restauração de Viollet-le-Duc. Em 26/05/1871, na época da Comuna, novamente revolucionários amontoaram todas as suas cadeiras, acendendo sob elas um fogo que deveria arder lentamente. No entanto, um condenado à morte prestes a ser fuzilado, revelou o fato à seu confessor que deu o alarme e a igreja foi salva. Há mais de um século a catedral não corre mais perigos desse tipo, e retomou sua merecida função de templo nacional dos franceses: Te Deum em 17 de novembro para a vitória de 1918, funerais do marechal Foch em 1929, toque dos sinos para a libertação de Paris em 24/08/1944, e funerais do General de Gaulle em 12/11/1970. Durante a Segunda Guerra Mundial a Rosácea Norte foi desmontada por parisienses que temiam ataques alemães.

Notre-Dame de Paris tem uma enorme importância na história francesa. Catedral da capital da França, ela foi sempre associada aos acontecimentos seculares da vida da nação. Notre-Dame continua erguida, sendo permanentemente restaurada, com suas mensagens e ensinamentos medievais ainda válidos para os dias de hoje. Testemunha muda e gigantesca da genialidade e também da ignorância da raça humana.